Conheça o Rito Brasileiro

Breve estudo sobre sua história

Publicada por Gosp

Publicada em 08/03/2023

O que é o Rito Brasileiro?

O Rito Brasileiro é o rito da nossa cultura maçônica, regular, legal e legítimo, nacional e diferente, acata os landmarks e demais princípios tradicionais da Maçonaria universal, respeitando seus usos e costumes. Apesar do título Brasileiro, ele é de âmbito universal e pode funcionar em qualquer parte do mundo, assim como os Ritos tradicionais, concilia a Evolução com a Tradição, une a Maçonaria contemplativa à Maçonaria militante, é conservador e, ao mesmo tempo, renovador, proclama a existência de um princípio criador, e como tal se afirma a fonte teísta, afirmando a crença em um Deus criador - SADU.

BREVE HISTÓRICO DO RITO BRASILEIRO

Teria sido a semente?

Em 1843 na cidade de Lisboa, Miguel Antônio Dias, sob o pseudônimo de  “Um Cavaleiro Rosa-cruz” lança o livro “Instrução Completa do Franco-Maçom”. Tal livro se inspirou em um dos mais famosos manuais franceses da época, o de François Etiene Bazot, que tratava apenas do Rito Francês e de Adoção. O que chama atenção no prólogo dessa importante obra, é que Miguel Antônio Dias solicitava aos Orientes de Portugal e do Brasil a criação de um Rito novo e independente, que tendo por base os três graus simbólicos comuns a toda a Maçonaria, tivesse, contudo, seus Altos Graus diferentes e nacionais.

A princípio a proposta foi tomada como descabida, tendo em vista que se considerava que qualquer nacionalismo seria contrário ao espírito universalista da Franco-Maçonaria. A proposta de Miguel Antônio Dias, no entanto, não era a de um patriotismo ou nacionalismo vazio, ou com objetivos políticos. A intenção era a de adaptar tal rito de forma que estivessem completamente adequados ao meio nacional de seus praticantes. Os Altos Graus “seriam formulados sob a influência do meio histórico e geográfico da Pátria em que se vive, sob sua índole, inspiração e pendores”.

Movimento precursor

Entre 1878 e 1882, o negociante José Firmo Xavier criou uma sociedade secreta semelhante à Maçonaria, colocando-a sob os auspícios de D. Pedro II, da Família Imperial e do Papa. Tal sociedade tinha por finalidade defender a religião católica, sustentar a Monarquia Brasileira, praticar caridade, desenvolver as ciências, as artes, as letras, a indústria, o comércio, a agricultura e contribuir para a extinção da escravidão. Era destinada somente a brasileiros natos, sem distinção de classe, como especificava o art. 3º da sua Constituição. 

Em 1907 Mário Behring publicou artigo na Revista Kosmos (ano IV, nº 01, janeiro, 1907) dando notícia dessa Maçonaria do Especial Rito Brasileiro, criada por José Firmo Xavier em Recife/PE. Behring apresentou dois pequenos volumes encadernados em couro que encontrara na Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro/RJ), onde trabalhava. Diz terem pertencido ao Imperador Dom Pedro II. Um deles contém o texto da “Constituição da Maçonaria do Especial Rito Brasileiro para as Casas do Círculo do Grande Oriente de Pernambuco, Sob os Auspícios de Sua Majestade Imperial do Brasil, da Família Imperial e de Sua Santidade Pontifícia"; o outro contém uma relação nominal de 838 sócios.

José Firmo Xavier provavelmente desejava fechar as feridas deixadas, sobretudo em Pernambuco, pela “Questão Religiosa”, e sonhando ardentemente ver essa amizade restabelecida, colocou a sua Ordem sob a proteção de D. Pedro II, da Família Imperial e do Papa. Apesar de todos os esforços, essa “Ordem” acabou se enfraquecendo e terminou por se extinguir ainda no século XIX.

Da história do Rito, propriamente dita, temos três fases:

  1. A Criação (Rio de Janeiro, 1914)

  2. O Ressurgimento (Rio de Janeiro, 1940)

  3. A Reimplantação Vitoriosa (Rio de Janeiro, 1968)

  4. A Criação

Lauro Sodré 

 

Não se sabe ao certo quais foram as razões que teriam levado Lauro Sodré a fundar o Rito Brasileiro. O que se sabe é que várias reuniões de Maçons ocorreram na casa do General José Joaquim do Rego Barros, no Quartel da antiga Artilharia da Costa, em 1914, onde o ideal trazido pelo Grão Mestre Lauro Sodré, o criador da ideia, tomou corpo.

Através do Decreto nº 500 de 23/12/1914 deliberou-se pelo reconhecimento e adoção do Rito Brasileiro, gozando das mesmas regalias concedidas aos demais Ritos reconhecidos pelo Grande Oriente do Brasil.

Com a eclosão da guerra de 1914-1918, bem como a intolerância de Maçons que viam o Rito com desconfiança e má Fé e arguiam que o rito era “irregular” por não ter constituída uma Oficina-Chefe, o rito não prosperou.

 

  1. O Ressurgimento

Em 1940 houve o ressurgimento do Rito, uma espécie de entreato, servindo de transição entre o ato oficial da criação em 1914 e a fase de reimplantação perene (vitoriosa) em 1968.

Nesse período foi elaborada uma nova Constituição do Rito. Em 1944, em função de dissidências no GOB e ruptura, as 9 Lojas praticantes do Rito ou abateram colunas, ou mudaram de Rito. O Rito novamente adormeceu.

  1. A Reimplantação Vitoriosa

Alvaro Palmeira 

Torna-se a grande figura do Rito. Na reimplantação vitoriosa de 1968, não somente exerceu papel decisivo, empregando sua autoridade de Grão Mestre Geral e grande líder, como moldou o Rito, formulando a base doutrinária em que hoje firmamos. Palmeira deu estrutura ao Rito e escreveu todos os rituais simbólicos e filosóficos (exceto o do grau 33).

Alvaro Palmeira cria uma comissão, visando organizar o Rito Brasileiro, rever a Constituição de 1940 de modo a colocar o Rito rigorosamente segundo as exigências Maçônicas da regularidade internacional, separando os graus simbólicos dos filosóficos.

Em 25 de abril de 1968 foi aprovada a nova constituição do Supremo Conclave do Rito Brasileiro e em 10 de junho de 1968, é celebrado tratado de Amizade e Aliança entre o Grande Oriente do Brasil e Supremo Conclave do Rito Brasileiro, que tinha como Grande Instrutor do Rito, o Irmão Alvaro Palmeira.

Supremo Conclave Autônomo para o Rito Brasileiro Como e porque surgiu o Supremo Conclave Autônomo do Rito ...

No início de 1974, em face da cisão com o Grande Oriente do Brasil atingindo profundamente o campo filosófico, é fundado em Cataguases, Minas Gerais, o “Supremo Conclave Autônomo do Rito Brasileiro” que se desligará do Grande Oriente do Brasil, e que atenderia às Lojas do Rito Brasileiro, principalmente as de Minas Gerais.

Mas desde a data de fundação, foi decidido que poderiam ser feitos tratados de amizade com outros Grandes Orientes Estaduais. No dia 07/11/2018 foi celebrado o Tratado de Amizade entre o Supremo Conclave Autônomo para o Rito Brasileiro e o Grande Oriente de São Paulo.

Hoje as Lojas do Rito Brasileiro do GOSP, possuem 4 oficinas capitulares (São Paulo, Mogi, Sorocaba e Avaré), 2 Conselhos Kadosh Filosóficos (São Paulo e Avaré), além de 1 Alto Colégio em São Paulo, todos ligados ao SCARB.

Conclusão:

O Rito Brasileiro nos permite a prática maçônica a nosso próprio modo ou cultura, conservando a universalidade adquirida através da convivência com outros ritos. Atende a requisitos da ortodoxia maçônica, adquirindo forma própria e mantém características (inalienáveis), que o distinguem no seio da maçonaria brasileira.

Nos seus Altos Graus se expande ao máximo os elementos da cultura nacional, além do estudo dos problemas nacionais e universais e suas implicações no futuro da Pátria e da Humanidade.

 

Fontes:

A História do Rito Brasileiro - Supremo Conclave do Brasil

Coletânia Maçônica - Lysis Brandão da Rocha, 1987 

Revista Kosmos, 1907

Documentos históricos do Rito Brasileiro

Rito Brasileiro, Uma Doutrina para o Século - Nelson de Faria

 

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Paulo Luiz Maximiliano é Secretário Adjunto de Orientação Ritualística do Rito Brasileiro e atual Venerável Mestre da Loja América nº 189 - Cruz de Excelência Maçônica do Grande Oriente de São Paulo.