Rito Moderno
Conheça mais sobre esse sistemaPublicada por Gosp
Publicada em 14/06/2023
Lauro Fabiano de Souza Carvalho, Assessor Especial do Grão-Mestrado do GOSP e Grande Secretário Geral do Supremo Conselho do Rito Moderno, fundado em 25/11/1874
As Lojas maçônicas eram “livres”, de matriz escocesa antiga e apoiavam politicamente o pretendente escocês da Casa de Stuart ao trono inglês. Em 24/06/1717 foi anunciada a fundação do sistema obediencial com a fundação da Grande Loja de Londres que visava disciplinar a Maçonaria, eliminar as lojas escocesas jacobitas na Inglaterra e oferecer suporte à casa de Hanover pelas novas lojas fundadas sob sua autoridade. Usavam a Constituição de Anderson, publicada em 1723, revolucionária e iluminista, que afirmava em seu primeiro artigo a necessidade do Maçom praticar a “religião universal”: “... Essa religião consiste em ser homens bons e leais, ou seja, homens honrados e justos, seja qual for a diferença de nome ou de convicções. Deste modo, a Maçonaria se converterá em um centro de união e no meio de estabelecer relações amistosas entre pessoas que, fora dela, teriam permanecido separadas...”.
Esta posição da Grande Loja de Londres, formada principalmente por aristocratas, não era aceita pela maçonaria tradicional antiga, de matriz escocesa original e que compreendia as Lojas de artesãos irlandeses. Laurence Dermott, maçom irlandês, em 1751 fundou a “Grande Loja dos Maçons Antigos e Aceitos ", pretendendo manter as tradições cristãs da Maçonaria de Ofício, a operativa. A Grande Loja dos Maçons Antigos e Aceitos denominava a de Londres “Grande Loja dos Modernos” e esta separação durou até 1813, quando se fundiram na Grande Loja Unida da Inglaterra e mantiveram o teísmo dos “Antigos”, publicando em 1815 sua Constituição com uma segunda versão da Constituição de Anderson. Esta segunda versão, publicada em 1738, alterou o primeiro artigo para: “[...] Seja qual for a religião de um homem, ou sua forma de adorar, ele não será excluído da Ordem, se acreditar no glorioso Arquiteto do Céu e da Terra e praticar os sagrados deveres da moral[...]”
Da primeira versão da Constituição de Anderson, adogmática, surgiram os Landmarques de Findel, que são os adotados pelo Rito Moderno. Da segunda versão, teísta, os Landmarques de Mackey, Pound e Grant.
Em 1725 foi criada na França a primeira Loja maçônica filiada à Grande Loja de Londres; esta Loja criou outras mais e em 1743 foi fundada a “Grande Loja Inglesa na França” a qual se declarou independente em 1755 e mudou sua denominação para “Grande Loja da França”. Em 1761 foi criado um sistema de graus denominado “Regime do Grande Oriente” ou “Sistema do Grande Oriente”. Ele possuía três graus, era baseado nos rituais da antiga “Grande Loja de Londres”, conhecida como “Grande Loja dos Modernos”, criados por Desaguliers, e seguia a Primeira Constituição de Anderson (de 1723). Em 1773 modificaram os regulamentos e passou a ser o “Grande Oriente da França”. Existia nessa época uma grande pressão por graus superiores ao grau de Mestre. Existia um “Rito de Perfeição”, ou “Rito de Heredom”, com 25 graus, criado por Etienne Morin com base no rito levado para a França por James II. Em 1782 o GODF criou o Colégio (ou Câmara) dos Ritos, que estabeleceu 3 graus simbólicos mais 4 graus superiores: sistema de 7 graus, sendo que em 1784 foi criado o “Grande Capítulo Geral da França” para administrar as “Ordens de Sabedoria” – graus 4 ao 7 – separando os graus simbólicos dos superiores.
Em 1797 a primeira Loja maçônica brasileira surgiu com os maçons de uma fragata francesa ancorada na Bahia, a Loja “Cavaleiros da Luz”, a qual não fazia sessões periódicas. Em 1801 foi feita a primeira referência em documento oficial do GODF ao termo “Rito Francês”. Na virada do século XVIII para o XIV na França, então, existiam dois sistemas no “colégio de Ritos”: o de sete graus, “Francês”, e o de 12 graus, “Adonhiramita”. A primeira Loja de trabalhos regulares no Brasil, “Reunião”, foi fundada no Rio de Janeiro em 1801 e sob a jurisdição do Grande Oriente da Ilha de França (hoje Ilhas Maurício). Neste ano foi fundado o Grande Oriente Lusitano, em Lisboa, pela Grande Loja dos Modernos (Inglaterra) e pelo GOdF. Em 1802 foi assinado um Tratado de Amizade entre o Grande Oriente Lusitano e o Grande Oriente da França. Há a referência ao Grão-Mestre lusitano, Sebastião José de São Payo Melo e Castro, ter sido elevado ao “mais alto Grau, de Cavaleiro Rosacruz”. Ainda em 1802, as Lojas “Constância” e “Filantropia”, ambas subordinadas ao GOL, foram fundadas no Rio de Janeiro.
Em 1815 foi fundada no Rio de Janeiro, subordinada ao GOL, a Loja “Comércio e Artes”, no Rito Francês ou dos Modernos, como determinava a Constituição da Potência. Em 21/06/1822 a Loja “Comércio e Artes” se subdividiu em mais duas, “União e Tranquilidade” e “Esperança de Niterói”, e as três Lojas fundaram o Grande Oriente Brasiliano ou Grande Oriente Brasílico. Em diversas atas da época são feitas referência ao Sistema de sete graus, ou ao Rito Francês, que foi então o rito oficial do GOB até pouco tempo atrás. Em 1825 na França, Nicolas Charles des Étangs publicou uma versão deísta do Rito Francês, propondo uma religião universal com a ética e a reflexão prevalecendo sobre a crença, passando-se a usar a fórmula “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Em 1833 o Grande Oriente do Brasil mandou imprimir seu primeiro ritual que era do Rito Francês ou Moderno. Em 10/09/1877 o GOdF reformou seu regramento e retirou dos rituais a fórmula “G∴A∴D∴U∴” e a obrigatoriedade da crença na imortalidade da alma. Chamada de “Querela do Grande Arquiteto do Universo”, esta nova fase da maçonaria francesa propôs a “liberdade absoluta de consciência”. Em 1886 foi publicado na França a versão “Amiable” do Rito, a qual passou a ser adotada pela maçonaria brasileira. Esse ritual permaneceu com poucas modificações até nossos dias, diferentemente do Ritual do Rito Francês na França.
Essa discussão entre “antigos” e “modernos” pode ser resumida da seguinte maneira: a Grande Loja Unida da Inglaterra ao impor a crença no G∴A∴D∴U∴ e na imortalidade da alma como critério de regularidade, utiliza a segunda versão da Constituição de Anderson, modificada em 1815 para ficar teísta e refletindo a querela com os maçons Antigos - por estes vencida. O Rito Moderno, sem pretender negar ou afirmar qualquer dogma, defende um adogmatismo racional que se baseia em disciplina intelectual e no respeito às convicções, doutrinas e crenças de seus membros. O Rito Moderno tem como princípio preservar o espírito de 1717 na Maçonaria e essa é a principal característica deste Rito que hoje tem no GOSP 30 Lojas ativas.
Lauro Fabiano de Souza Carvalho, Assessor Especial do Grão-Mestrado do GOSP e Grande Secretário Geral do Supremo Conselho do Rito Moderno, fundado em 25/11/1874.